sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Natal

Nunca uma noite
Será igual
Neste dia
Alguns choram
E sorridentes
Penduradas
As cabeças giram
Histórias sem fim.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Valsa

A dama
Desfilava no salão
Com seu vestido
De flores e
Preciosas pedras
Alinhavadas
Por noites e noites
Desenhando caminhos
E desfiladeiros.

A dama
Desfilava no salão
Passos finos
E os homens,
Como que esperando
Foram sendo degolados
Caindo um a um
Aos seus pés
E já amanhecia o dia.

sábado, 27 de novembro de 2010

Evento

Um fino sopro
Sobre baralho
E a voz vira uma jogada.

Por entre os corredores do Castelo
Anda a rainha, impassível.

O rei dorme.

Na sala real,
Sobre o trono,
Todas as vestes caem
Vermelhas enquanto a rainha
Inventa sonhos
De espadas.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Truco

Tenho nas mãos as cartas
E meus pés seguem atrás
Da dama
Ela corta os véus do tempo.

Diante do rei
Ele, o valete, parece desviar tantas decisões
Antes fosse uma aposta.
Ela olhava o cavaleiro
Em sua armadura reluzente.

Arrisco
Um movimento,
Ela, reticente parece querer
Fugir
Deixar todos os vestidos
Suas criadas,
Seus perfumes e brilhos.

Tenho as cartas na mão
Elas parecem escorregar
Então,
Como se não fosse esperado
Lanço o valete e a dama dentro
Do meu bolso.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Como?

Vinte minutos.
Lamentar
O dia que desceu o rio
Na barca.

Descobrir
O tempo comido pelo sol
Se há algo para chorar,
Nem posso.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Decisão

Sete foram os dias.
No primeiro, toda resistência
Desceu meu corpo
Enganou meus olhos
E eu fechado disse sim.

No segundo dia,
Vi tudo acontecer
Em minhas mãos.
Era só amanhecer.

No terceiro dia,
Como pude
Sem saber
E virar as costas
Com o sol nos pés
Queimava meus sonhos.

Quarto dia,
O mesmo número de voltas
Que dei no tempo entre acordar
E vê-la sentada na varanda.

Na quinta vez
Foi preciso
Beber do oceano
E meus olhos ficaram duros
De medo.

No sexto dia,
Ela veio
De outras terras sussurrou-me
Sonhos tão distantes
Suas mãos tocavam meus cabelos
Contando com seus dedos histórias
De muitas vidas para viver.

Ainda hoje
O sétimo dia não passou
Continuo esperando
Passar esse aperto sem nome.

sábado, 11 de setembro de 2010

Além

Não é preciso morrer
Para saber que nos olhos aterrorizados
De tantos homens me olhando na fuga
Haviam suspiros.

Na morte, a vida não é celebrada
No outro mundo todos são iguais?
E a farda pesada torna-se apenas lembrança
Das batalhas
Dos canhões
De braços movendo-se
Na força do derrubar o inimigo.

Lá, não existem trincheiras
Nem pólvora no rosto.
Tudo ficou...

E além do rio
Desceremos todos no esquecimento
Conduzidos por um vulto sem nome.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Aconteceu

Talvez,
Dedilhar teus cabelos
Balançando saudade
Diminua a distância
Entre nossas bocas.

Talvez,
Atrás

Onde você guarda
Da luz tua pele mais fresca
Possa eu deitar
Minhas mãos.

E se você voltar
Seu corpo para o meu,
Descubramos
Úmidos um no outro
O início da noite.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Partida

Enquanto meu olho direito
Inquieto chora a falta
Que a saudade abraça.

O olho esquerdo beija
Nas tuas mãos a conquista
Que cresce nos teus cabelos.

Depois,
Com as duas mãos
Enxugo um único olho.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Deitar você

Forra-se o corpo nos dedos

Esticando o lençol da pele.

O corpo exala

Cheiro da vontade inacabada.

A língua toca a fenda

Chave estrelada.

Flama o gosto!

Risca o céu labareda.

Rubor no tremer do toque

Corpo inteiro no desenho seguro

De duas mãos rasgando a carne

E rostos desprositados

Equilibrados no vazio

Espaço fechado de um quarto.

Quarto povoado de sons

E dois seres morrendo

No infinito.

sábado, 31 de julho de 2010

Corvos

Calem-se!

Não somos aves
Somos o tempo comido pela noite
Nossa fome
É a palavra que não foi.

Não é o sangue doce
Antes o amargo sumo
Da noite dentro dos olhos

Este é o vinho
Bebido na taça do ventre de uma mulher.

Minha virtude é espanto.
Tudo aquilo que recolho em mim
Distancia o momento triunfal do corpo
No seu ponto alto.

Bebamos, ergamos nossos cálices à noite
Antes que o dia com seus dedos poderosos
Abram-nos os olhos.

quinta-feira, 22 de julho de 2010

Dose da Salvação

Não sei como.
Dizer que suas mãos moveram
Minha face
É pouco.
Como é pouco explicar
Um sorriso depois de tanta chuva
Cobrindo meus olhos.

Não sei como
Vagarosamente,
Ela abriu a porta
E me conduziu para jardins
Tão perfumados.
Talvez amanhã possamos ver o sol
Subir em nossos corpos toda
Alegria de estar.

domingo, 18 de julho de 2010

Dose Limite

Ela virá outra vez
Um sem de nome triste
Percorrendo os espaços da vida
Cortando as fronteira do tempo,
Repentinamente
como um susto.

sexta-feira, 16 de julho de 2010

Dose Constelar

O sol esvaziou sua luz
Dentro da boca de uma mulher.
Mulher solar
Nada que eu faça abrirá sua voz.
E ela é só distância
Na minha procura.

Quanta falta me faz o calor
Aquele afinado aproximar-se
Sua pele estalando estrelas
Tudo só imagem acariciada.

Dose da Claridade

Pode o dia amanhecer
Em mim a insegura vontade
De sacudir os tapetes tão pisados
Com cheiro de passagem
Abrir portas, janelas
E sair
Olhando o céu cobrindo meu corpo?
Pode, nesse instante,
Pequeno que seja
Uma boca qualquer chamar meu nome?
É tão difícil saber.

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Overdose

Exagerei, confesso
Demais é querer amar.

Algo vertiginoso subindo
Para perder-se ao fim do dia
Que não amanhece
Saudade.

Dose da Precipitação

A música abre
Na pele uma voz cansada.

Enquanto os olhos
Chovem uma inundação
Permaneço parado.