quinta-feira, 10 de novembro de 2016



EPIFANIA

Para o amigo e poeta Antonio Aílton Santos Silva


A estrela da vida inteira ilumina só parte do caminho
E a cada esquina transborda algo dos dias
Além do tédio de quem espera o retorno.
A poltrona do ônibus tem o cheiro
De viagens que não fiz.


Enquanto abro um livro escorre já perto
O liquido viscoso de um pensamento abortado.
Alguém escuta Pablo num rádio de pilha
Mas o pedido de perdão é silenciado
Amor Amor Amor, pode o abandono ter outro nome?

O mundo é maior para quem viaja.
E agora vejo
As bailarinas da infância
Diante do infante
Esperando o primeiro passo
Na última parada.


É fim de ano
Na bagagem levo alguns livros
E quatro presentes mal embrulhados.
Este é o enredo que me prende.


A Estrela da vida inteira pode ser
O que esqueci de visitar.


segunda-feira, 4 de março de 2013

Recife


Outra cidade antiga
Não a minha,
A dependurada no improvável
A dos pés mordidos pelo mar
A indomável engolidora da gente
Das ruínas
Dos ossos secos que não calaram
A herança do medo.
Nessa viagem
Nesse périplo da palavra virada ao avesso 
Reconheço o meu destino
E os anos são mais que uma promessa
Uma mandala girando 
Os signos do engano.

sábado, 2 de março de 2013

De voltar...


A rota do engano
A fúria do medo
E certo mal feito
O inquieto gesto
A palavra gasta
Repetida
Suja
Ingrata por ser a mesma
Jamais voltará à minha boca
Antes do nascer do sol
Mais reticente do que nunca.

A quarta parte da saudade


O meu dia chegará azul
Não o turquesa dos cortinados
Do quarto em que me deito
Escuro
Mas celeste
Longe,
Muito longe dos teus dedos.

SALVAÇÃO...


Judas não era uma má pessoa
Apenas traiu Jesus para logo em seguida atirar-se 
Do alto do muro que cercava a cidade....
Outros desocupados preferem
Sentar na roda dos escarnecedores
Cuspir na comida
E esquecer que possuem uma vida
Se contentam com as migalhas 
Que recolhem pelo chão.
E ficam a espreitar as pessoas
A procura da felicidade
Que não tem.

ACONTECER


Quando o sol for partido ao meio
não haverá como juntar sua luz
Uma metade brilhará com meia intensidade
A outra desistirá de nascer todos os dias.
Uma parte do mundo ficará na escuridão
E eu estarei lá cantando para mim mesmo
A alvorada perdida.